segunda-feira, 28 de maio de 2007

Pombagira






Pomba Gira é uma das entidades mais polémicas que conheci nos meus anos de estudo e trabalho no Candomblé. Muito se diz sobre estas entidades: que foram mulheres da vida e que ao morrer se transformaram, que são espíritos demoníacos, que pervertem a sexualidade das pessoas, afastam casais, aproximam, enfim, todo o tipo de adjectivos lhes têm sido dados.
Pombagira, Bombogira, Exú Mulher ou ainda Bomobonjira, são todas formas de a denominar. Em especial, é mais utilizada a denominação Pombagira que nos chega pela influência Banta (Angola). A Entidade Banta Aluvaiá-Pombagira que foi trazida de África durante o fluxo de escravos para o Brasil e então submetida à entidade Iorubana Exú, durante todo o processo de miscigenação que se desenvolveu no Brasil, sendo colocada e entendida como a sua vertente feminina.
O facto de esta ser uma entidade que é entendida e cultuada de diferentes formas por diversas nações do Candomblé, pela Umbanda e pela Kimbanda, prova desde logo que se tratou de um processo de adaptação não consensual que ainda hoje perdura. No Candomblé mais tradicional, como o Ketu, estas entidades não são cultuadas.
No Candomblé tradicional, cultua-se exclusivamente o Orixá Exú que é uma entidade masculina, cuja simbologia é unicamente fálica, e portanto nada tem de feminino.
No entanto, as Pombagiras existem de facto, não são Orixás, mas assim mesmo, são cultuadas também no Candomblé, embora nas nações menos tradicionais.Como membro do Candomblé Ketu, o conceito que formei sobre quem são as Pombagiras é simples: são seres do mundo astral, guerreiras tanto quanto Exú, que estão bem próximas da nossa esfera humana, algumas já reencarnaram e outras não.
Convivi de perto com Maria Padilha. Tive oportunidade durante os anos de vê-la, assim como às outras que pertenciam a várias médiuns do terreiro, realizarem inúmeros trabalhos: ajudar a vencer obstáculos, a ser feliz no amor, vencer problemas de saúde de desarmonia conjugal, e muitas outros problemas que as pessoas tinham e sobre os quais lhe pediam auxílio.
Pombagira subdivide-se numa enorme legião onde cada qual tem o seu nome próprio, conforme a sua área de actividade. Temos a linha das que pertencem às encruzilhadas como Pomba Gira Rainha das 7 Encruzilhadas; a linha do cemitério liderada pela Pombagira da Calunga; a linha das ciganas, lideradas pela Pombagira Cigana; e a linha ligada aos locais ermos, liderada pela Pombagira, Maria Mulambo. Com relação às suas manifestações nos médiuns, normalmente como mulheres, as suas legiões podem adoptar nomes como Pombagira Rosa, mas pertencendo a esta ou àquela linha, liderada pela chefe correspondente.Uma coisa é muito certa, todo e qualquer problema que colocamos nas mãos de qualquer uma delas tem solução.
A sua força é guerreira, a sua vibração magnética é carregada de sensualidade e alegria, tanto que a sua chegada aos médiuns é sempre alegre, solta e sensual. Exú tem ligação com a força sexual criativa, e a Pombagira por sua vez com a circulação dessa energia criativa existente na vida e no Universo. Lamentavelmente a sua reputação tornou-se péssima devido a erros de incorporação dos próprios médiuns, que por deturpações pessoais as transformaram em seres com fama de depravadas, libidinosas e cruéis.
O importante ao invocá-las é lembrar sempre que, são entidades complexas de personalidade forte, e que nunca perdoam uma falta de palavra dada. O importante também é não invocá-las para trazer prejuízo a outrem, porque elas o farão com certeza, mas a dívida kármica adquirida ficará por conta de quem pediu.
Quanto ao seu aspecto sensual, faz parte de sua polaridade, não querendo significar com isso depravação ou perversão. Até hoje não conheci nenhuma mulher que tenha deixado de ser honesta por culpa de qualquer uma delas.
Comentários :
5 Comentários » Categorias : Exú, Pombagira, Orixás, Candomblé, Religião, Umbanda, Vida
Exú
7 03 2007

Exú
Dia da semana: Segunda-feiraCores: Preto e VermelhoSaudação: Laroié!Elementos: Terra e FogoDomínio: Sexo, Magia, União, Poder e TransformaçãoSimbolos: Ogó de Forma Fálica, Falo Erecto
Exú é a figura mais controversa do panteão Africano, o mais humano dos Orixás, senhor do princípio e da transformação. Deus da terra e do universo; na verdade, Exú é a ordem, aquele que se multiplica e se transforma na unidade elementar da existência humana. Exú é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia-a-dia.
Muitas são as confusões e equívocos relacionados com Exú, o pior deles o que o associa à figura do diabo cristão; “pintam-no” como um deus voltado para a maldade e para perversidade, que se ocuparia em semear a discórdia entre os seres humanos. Na realidade, Exú contém em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano. Exú não é totalmente bom nem totalmente mau, assim como o homem: um ser capaz de amar e odiar, unir e separar, promover a paz e a guerra.
O maniqueísmo, próprio das grandes religiões monoteístas, não se aplica ao Candomblé, muito menos a Exú. A cultura africana desconhece oposições, em especial a oposição entre bem e mal; sabe-se aqui que o bem de um pode perfeitamente ser o mal de outro, portanto, cada um deve dar o melhor de si para obter tudo de bom na sua vida, sempre cultuando, agradando e agradecendo a Exú, para que ele seja, no seu quotidiano, a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade. Exú é o Orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade, e, se agradado como deve ser, saberá retribuir; quando agradecido, tornando-se amigo e fiel escudeiro. No entanto, quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte, fechando-lhe os caminhos, trazendo problemas e dissabores.
Exú é a figura mais importante da cultura Iorubá. Sem ele o mundo não faria sentido, pois só através de Exú é que se chega aos demais orixás e ao Deus Supremo Olodumarê. Exú fala toda as línguas e permite a comunicação entre o Orum e o Aiyé, entre os Orixás e os Homens. É importante salientar que Exú não tem amigos nem inimigos. Exú protege sempre aqueles que o agradam e sabem retribuir os seus favores.Exú foi à primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo a sua região de origem em África, pois em todos os reinos se presta culto a Exú. Sabe-se, no entanto, que chegou a ser rei de Ketû. Exú renasceu várias vezes e a sua história revela que é filho de Orunmilá ou de Oxum, dependendo do momento em que renasce.
Características dos filhos de Exú
Os filhos de Exú são alegres, sorridentes e estão sempre de bem com a vida, são ambiciosos, extrovertidos, espertos, inteligentes, atentos. Sabem como ninguém ser sociáveis e diplomáticos, pois conhecem o valor de uma boa amizade, fazem questão de manter o maior número possível de amigos.Rapidamente, os filhos de Exú se tornam pessoas populares, amadas por uns, odiadas por outros. Extremamente dinâmicos, os filhos deste Orixá não se desanimam nunca, mantêm sempre a certeza de que as coisas, mais cedo ou mais tarde, acabam por mudar a seu favor.
Pessoas com impressionante facilidade de comunicação, boa lábia e com charme conseguem tudo o que querem. Irónicas e perigosas, costumam manter uma vida sexual bastante agitada, sem pudores. São pessoas extremamente rápidas, que não pensam: Fazem. Os filhos de Exú possuem uma facilidade impressionante para entrar e sair de confusões, são do tipo que arma a confusão, sai ileso e ainda se diverte com as consequências. Esquecem facilmente as ofensas, não guardam rancor, mas não perdem a oportunidade de se vingar. Gostam da rua, das festas e das conversas intermináveis, o comportamento próprio de um Orixá que é só alegria.

Nenhum comentário: